A população brasileira é composta, em sua maioria, por pretos e pardos. No entanto, essa proporção não é vista na redação de um dos maiores jornais do país: a Folha de São Paulo. A grande imprensa brasileira, que por informar a sociedade deveria refletir a diversidade do povo brasileiro, mas o que se vê é a herança da desigualdade social marcada pelo racismo.
De acordo com estudo do grupo GEMAA "Raça, gênero e imprensa: quem escreve nos principais jornais do Brasil?”“, que explora os dados de cor e raça da redação de três jornais brasileiros incluindo a Folha de São Paulo, os negros na redação da Folha representam apenas 11,6% do pessoal.
Para analisar essa questão, coletamos nove mil notícias do jornal Folha de São Paulo. Cada ponto dessa visualização é um título
São dados de uma década de cobertura, abrangendo notícias publicadas entre janeiro de 2013 e dezembro de 2022
São notícias de dez editorias do veículo: Cotidiano, Equilíbrio e Saúde, Esporte, Poder, Mundo, Mercado, Opinião, Ilustrada, Ilustríssima e Educação.
66% das notícias analisadas são das editorias Cotidiano, Mundo e Ilustrada.
Ao lado, é possível ver as palavras mais frequentes nos títulos ao longo da década. Quanto maior o tamanho da palavra, mais vezes ela apareceu.
A "campeã" de aparições foi a palavra RACISMO
O termo racismo e suas variações (racista, racistas, etc) aparece em 649 notícias
Racismo vem pautando mais reportagens nos últimos anos. Em 2013, o tema apareceu 18 vezes; em 2020, esse número foi aproximadamente cinco vezes maior: 104 notícias
Na comparação por editorias, o racismo pautou todos os cadernos analisados. Curiosamente, a editoria com mais menções ao problema é a de Esportes. Ao observar as notícias, muitas delas retratam ataques racistas direcionados aos jogadores de futebol
Um dos temas que se destacam na década são as cotas raciais. As cotas estão em 175 títulos da amostra
As cotas foram pauta, principalmente, em três editorias: Cotidiano, Educação e Poder
A presença do tema nos títulos foi mais frequente no início da década, com o início da política de cotas nas universidades e no fim, com a chegada dos dez anos da política e a revisão da lei
Pensando em interseccionalidade entre gênero e raça, também é possível buscar os títulos das notícias em que mulheres negras aparecem
Ao lado podemos ver a distribuição desses títulos por editoria. Passe o cursor sobre os círculos e veja as matérias
Destaque para a editoria Equilíbrio e Saúde: Em oito títulos, cinco relatam que mulheres negras são as mais afetadas por algumas condições de saúde (como eclâmpsia e perda dentária)...
...ou pela ausência de procedimentos médicos (como a mamografia)
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O treemap abaixo mostra o conjunto de bigramas analisados, por ano e editoria. Isso dá uma representação visual de quais bigramas são mais comuns em diferentes seções do jornal.
Podemos ver de forma rápida quais combinações de palavras são mais prevalentes em diferentes editorias e em qual ano. Cada bloco retangular representa um bigrama específico e esses blocos estão agrupados em anos e editorias.
Por exemplo, imagine o título Ketanji Brown Jackson toma posse como 1ª juíza negra da Suprema Corte dos EUA que foi publicada em 2022 na editoria Mundo. O treemap tem um retângulo para "suprema corte" dentro do bloco maior para o ano de 2022, que está dentro de outro retângulo, correspondente à editoria "Mundo". A área do retângulo é proporcional à frequência desse bigrama específico naquela editoria.